Sobreviventes de fístula obstétrica são formadas e transformadas em activistas

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Um grande ganho, um impacto mensurável e inquestionável e auto-estima de centenas de raparigas e mulheres recuperadas, para além de incalculáveis divórcios evitados.

Hoje, apenas Gaza e Niassa enfrentam ligeiras dificuldades na operação das Fístulas Obstétricas. Uma dificuldade que é compensada pelas ‘’oficinas públicas de operação’’ levadas a cabo pelo Programa Nacional das Fístulas Obstétricas através do árduo trabalho das mentoras do programa Rapariga Biz de que a FDC é parte. As restantes províncias são uma glória que deve ser regozijada. Ainda que estejamos cientes de que o problema da fístula obstétrica não acabará de um dia para o outro, a boa notícia é que as crianças têm conseguido ganhos positivos dia após dia. Estes ganhos, associados com a emergência vertiginosa de movimentos activos em advocacia e activismo contra fístula obstétrica, vêm alicerçando esses ganhos para que o sentido de desenvolvimento sustentável e pleno das nossas crianças se corporize nos próximos anos, com adolescentes e jovens livres de mortes maternas e infantis preveníveis e com potencial físico e intelectual pleno.

E em reconhecimento sobre a necessidade de formarmos campeões pela defesa dos direitos da criança, a Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade realizou, ontem e hoje, 18 e 19 de Junho do presente ano, a formação sobre fístula obstétrica que  marca a passagem de 18 raparigas  para activistas e agentes comunitários de prevenção da fístula obstétrica, com o objectivo de salvarem vidas nas suas comunidades.

Para isso, as organizações como a Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), com apoio do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA); Governo de Moçambique; Hospital Central de Nampula (HCN); Programa Nacional de Formação e Tratamento de Fístula Obstétrica e o Instituto Focus Fístula estão a dotar 18 raparigas  e sobreviventes de (FO) em conhecimentos sobre Direitos de Saúde Sexual e Reprodutiva-DSSR.

Prevenção da gravidez na adolescência; casamentos prematuros (causas e consequências); identificação e referência dos casos às mentoras e Unidades Sanitárias, são alguns dos aspectos específicos que as activistas apreenderão e que estão relacionados com a superação de Fístula Obstétrica (FO), através de escolhas informadas e seguras.

‘’Não ia a escola, poucas amigas sentiam-se bem comigo e era quase tida como não humana’’, disse Lara Domingos, de Moma, uma das participantes da formação que considera que o seu corpo é o seu sonho e o seu sonho é o seu futuro e o seu futuro é a sua vida.

Esta acção formativa da FDC, que acontece com as raparigas de quase todos distritos de Nampula, tem o mérito de ser uma das poucas dirigidas a sobreviventes de Fístula Obstétrica, com idades de 10-24 anos.

Em Moçambique, segundo Armando Melo, coordenador do Programa Nacional de Fístulas Obstétricas, cerca de 3500 pacientes já foram operados com sucesso num universo de 2 mil casos que são registadas e apenas 500 destes são tratados anualmente.

À semelhança de outros países em vias de desenvolvimento, a Fístula Obstétrica constitui um problema de Saúde Pública em Moçambique, sendo os principais factores determinantes para a sua ocorrência a gravidez na adolescência; as grandes distâncias para as unidades sanitárias; a baixa escolaridade e a dificuldade de acesso à informação sobre as formas de prevenção da gravidez na adolescência.

A Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC) é uma organização sem fins lucrativos, que visa fortalecer as capacidades das comunidades com o objectivo de vencer a pobreza e promover a justiça social em Moçambique. De modo a tornar prática a sua missão, a FDC guia-se pelos seguintes valores: Respeito pela Pessoa Humana, Solidariedade, Justiça Social, Trabalho, Honestidade e Iniciativa.