Doze raparigas são preparadas e transformadas em activistas contra Fístula Obstetrica

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As datas 05 e 06 de Setembro do presente ano marcam a passagem de 12 raparigas  para activistas e agentes comunitários de prevenção da fístula obstétrica, com o objectivo de salvarem vidas nas suas comunidades.

Para isso, as organizações como Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), com apoio do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA); Governo de Moçambique; Hospital Central de Nampula (HCN); Programa Nacional de Formação e Tratamento de Fístula Obstétrica e o Instituto Focus Fístula estão a dotar 12 raparigas sobreviventes de (FO) em conhecimentos sobre Direitos de Saúde Sexual e Reprodutiva-DSSR.

Prevenção da gravidez na adolescência; casamentos prematuros (causas e consequências); identificação e referência dos casos às mentoras e Unidades Sanitárias, são alguns dos aspectos específicos que as activistas deverão apreender e que estão relacionados com a superação de Fístula Obstétrica (FO), através de escolhas informadas e seguras.

Esta acção formativa da FDC, que acontece na província de Nampula para as 12 sobreviventes provenientes dos distritos da Ilha de Moçambique, Nacala-Porto, Rapale e Nampula, para além de parceiros do Governo Provincial e da Sociedade Civil, tem o mérito de ser a primeira de género dirigida a sobreviventes de Fístula Obstétrica, com idades de 10-24 anos.

Em Nampula, segundo o HCN, 59 pacientes foram operadas no ano passado e até Agosto do presente ano (2017) 62 pacientes beneficiaram-se da operação. A nível nacional, mais de 2 mil casos de fístulas obstétricas são registadas e apenas 500 destes são tratados.

À semelhança de outros países em vias de desenvolvimento, a Fístula Obstétrica constitui um problema de Saúde Pública em Moçambique, sendo os principais factores determinantes para a sua ocorrência a gravidez na adolescência; as grandes distâncias para as unidades sanitárias; a baixa escolaridade; a dificuldade de acesso à informação sobre as formas de prevenção da gravidez na adolescência.

Segundo a activista sênior e PCA da FDC, Graça Machel, é possível evitar a fístula obstétrica. “Normalmente, ela é consequência de um trabalho de parto prolongado, os bebês quase sempre morrem, é um absurdo que ainda exista. A fístula obstétrica está associada a características de pobreza, situações em que o sistema de saúde não funciona para actuar na prevenção e na provisão de serviços obstétricos de emergência. Realmente é muito triste.” De acordo com a activista, países desenvolvidos praticamente erradicaram a fístula obstétrica.

A Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC) é uma organização privada, sem fins lucrativos, que visa fortalecer as capacidades das comunidades com o objectivo de vencer a pobreza e promover a justiça social em Moçambique. De modo a tornar prática a sua missão, a FDC guia-se pelos seguintes valores: Respeito pela Pessoa Humana, Solidariedade, Justiça Social, Trabalho, Honestidade e Iniciativa.

Informações adicionais sobre FO

O QUE É A FÍSTULA?

Trata-se de uma lesão, que pode ser prevenida e tratada, que ocorre durante um parto prolongado ou obstruído sem a assistência devida e atempada de um profissional de saúde qualificado, e origina uma abertura e comunicação entre a vagina e a bexiga. Pode igualmente ser causada por uma violação sexual, que pode resultar na ruptura do canal vaginal. Se não for tratada, a fístula pode transformar-se num problema de saúde crónico, incluindo o aparecimento de úlceras, problemas renais e a danificação dos nervos das pernas, bem como a impossibilidade de levar uma vida e trabalho normal.

COMO OCORRE A FÍSTULA?

Um parto arrastado pode durar até sete dias, porém o feto morre depois de dois ou três dias. Durante o parto prolongado, os tecidos moles da pélvis são comprimidos entre a cabeça do bebé e o osso pélvico da mãe. A falta de circulação do sangue danifica os tecidos, criando um orifício entre a vagina e a bexiga, conhecida como fístula vesico-vaginal ou entre a vagina e o recto, que causa a fístula recto-vaginal ou ambas. O resultado é a perda incontrolável de urina, fezes ou ambas.

PORQUÊ QUE ISTO OCORRE?

A FO normalmente acontece em mulheres mais pobres, especialmente aquelas que vivem longe das unidades sanitárias, sendo um problema que deriva da vulnerabilidade dessas mulheres, as quais não beneficiam dos direitos e cuidados de saúde reprodutiva, entre os quais a assistência ao parto. Estas mulheres representam a condição extrema de desigualdade de género.

EXISTE TRATAMENTO PARA AS FÍSTULAS?

A fístula é prevenível e tratável em diferentes partes do mundo, incluindo Moçambique. A cirurgia reconstrutiva pode, em muitos casos, resolver o problema. São necessárias duas a três semanas de cuidados pós-operatórios para garantir resultados satisfatórios. O aconselhamento e o apoio são igualmente importantes para resolver os efeitos psicológicos e facilitar a reintegração social.

DEPOIS DA CIRURGIA A MULHER PODE VOLTAR A VIDA PRODUTIVA?

Se a cirurgia for bem sucedida, a mulher poderá retomar a sua vida produtiva. Normalmente as mulheres poderão ter mais filhos, mas muitas vezes é recomendada a cesariana para prevenir a recorrência da fístula. Nos casos em que a fístula não pode ser corrigida a mulher poderá ser submetida a uma urostomia – que consiste no uso de um saco que “guarda” a urina, o que acaba proporcionando uma melhor condição de vida do que a sua perda incontrolada