‘‘Os efeitos da guerra nas mulheres são incalculáveis. Perdemos maridos, filhos, irmãos, namorados. Sofremos violações, humilhações, indignidades. Perdemos os nossos poucos haveres. Estivemos em maioria nos campos de deslocados e de refugiados. Nós mulheres moçambicanas temos vindo a suportar de forma desmedida os impactos da guerra. As feridas e as cicatrizes permanecem frescas. Ainda sofremos em silencio’’, afirmou Rute, uma das participantes, para quem o maior objectivo do Movimento é apoiar os esforços nacionais para a busca de uma paz efectiva, iniciada pelo Chefe de Estado e Líder da Renamo, em reconhecimento da importância dos acordos alcançados pelos dois líderes no contexto do diálogo político para a Paz.
Rute é uma das 200 mulheres de todo país que esteve, durante a semana passada, reunidas na Conferência Nacional do Movimento Mulher pela Paz, na Cidade da Beira.
O encontro, organizado pela FDC, instituição que lidera o movimento, em parceria com ACCORD e IMD, com apoio financeiro do Governo Sueco, tem como objectivo consolidar as ideias resultantes das consultas comunitárias e regionais, precedidas por um estudo de linha de base, orientadas para a criação da Agenda Nacional de construção e manutenção da paz.
O estudo conduzido em 25 distritos teve como alvo 662 mulheres provenientes de diversos segmentos da sociedade que trouxeram as suas sensibilidades e contribuições para uma agenda nacional para a Paz.
Ao longo de todo o processo, surgiram mensagens-chave, que contribuem para a identidade e força motriz do Movimento.
Assim, elas concordaram em eliminar as barreiras que as separam, designadamente:
Questões sociais: Complexo de superioridade e inferioridade; Tribalismo; Regionalismo; Diferenças culturais; Segregação com base na diferença de religião; Estatuto social e exclusão social com base no nível de educação; falta de confiança entre as mulheres; Fofoca e intrigas; diferenças étnicas; raça; e falta de diálogo.
Questões econômicas: acesso limitado aos recursos pela maioria das mulheres; o nível de educação frequentemente impacta no nível de empoderamento econômico – as mulheres com educação superior se sentem superiores e se separam das outras mulheres; diferentes níveis de empoderamento e acesso a recursos econômicos – mulheres em campos profissionais não se associam àquelas com menor poder econômico.
Questões políticas: Exclusão baseada em filiação; a guerra trouxe separação das famílias e destruição do tecido social; as mulheres carregam o maior fardo devido a guerra.
E abraçaram os elementos que as unem:
Sentido de pertencer à pátria moçambicana; necessidade de desenvolver iniciativas comuns e fazer parte de mesmas associações de mulheres; Instituições de caridade, grupos de poupança entre outros. Necessidade de partilhar experiências em várias matérias relacionadas com questões familiares, trabalho profissional e doméstico. Cultura de não violência entre mulheres; Natureza materna / amor da mãe – sentido de concepção e trazendo e protegendo a vida; Liberdade e participação da mulher – liberdade está possibilitando oportunidades de interação entre mulheres; e a capacidade das mulheres se ajudarem, mesmo que sejam de diferentes afiliações políticas e status social.
Na busca de uma agenda de reconciliação, coesão social e paz sustentável, os princípios e valores que elas definiram são baseados em:
Assim, as prioridades que devem constituir a agenda do movimento de mulheres pela Paz, sustentam-se em 8 pontos: