FDC lança relatório anual 2021
2021 foi um ano de grandes desafios e oportunidades. Neste ano, a FDC expandiu-se geográfica, financeira e programaticamente comparando com o ano passado, 2020, tendo saído de 84 para 110 distritos no horizonte dos 154 existentes em Moçambique. Esta presença traduziu-se na implementação de projectos e iniciativas que alcançaram directa ou indirectamente mais de 4.5 milhões de habitantes, sobretudo crianças, adolescentes, jovens e mulheres, através de sessões de mentoria, pacotes de formação, sessões comunitárias de promoção, educação e mudança de comportamento, redes e clubes de protecção dos direitos humanos, entre outras abordagens. Este trabalho foi possível através do engajamento de um estrutura comunitária progressiva e assistencialista composta por 25 mil agentes comunitários (activistas, mentores, supervisores, paralegais, professores, comités comunitários de saúde e de proteção da criança, líderes comunitários, religiosos, matronas, jovens campeões, entre outros).
Como resultado, a FDC fortaleceu o potencial de transformação das estruturas que impactam a vida das mulheres, jovens raparigas e crianças moçambicanas da marginalização e discriminação para uma que reflita sua dignidade humana. Com intervenções que atravessam o domínio da saúde, em especial a saúde sexual e reprodutiva, a FDC desenvolveu programas e campanhas de prevenção e promoção de serviços de saúde, alcançando e referindo para as unidades sanitárias (SAAJs e outras portas) jovens, com maior incidência na rapariga contactada pelo activista dentro ou fora da escola. Com campanhas de prevenção e combate à malaria, que incluíram não só acções do saneamento do meio, mas igualmente, a distribuição de redes mosquiteiras ao domicílio, a FDC integrou o movimento de combate a este problema de saúde pública no país que tem reivindicado óbitos. Mexendo com práticas tradicionais violadoras dos direitos da rapariga e condicionantes das uniões prematuras que colocam o pais entre os 10 mais afectados no mundo, a FDC mobilizou e levou a efeito diálogos
comunitários consciencializadores e voltados a transformar o entendimento deste problema ao nível das comunidades a partir do contexto e linhas de acção sustentados na nova lei sobre Prevenção e Combate às Uniões Prematuras.
No contexto da emergência decorrente da insurgência armada a norte de Mocambique, a FDC intensificou as suas intervenções de assistência humanitária em Cabo Delgado com vista a mitigar os efeitos da insegurança nas populações, criando espaços seguros, onde as mulheres vítimas e deslocadas das zonas de conflito recebem apoio psicológico, apoio em caso de violência baseada no género, instrução para desenvolver múltiplas habilidades, incluindo kits de dignidade da mulher, composto por material diverso de higiene pessoal, de prevenção da covid-19, vestuário, entre outros.
Em resposta aos impactos climáticos adversos, após dois anos da passagem do Ciclone IDAI pela região Centro do País, onde as marcas da crise humanitária ainda estão patentes, a FDC implementou um programa visando reforçar a capacidade de resposta dos governos locais e comunidades pós-ciclone IDAI para que possam gerir melhor futuros desastres através da melhoria do sistema de aviso prévio nas comunidades (SAP), implantação da agricultura inteligente ao clima, melhoria da nutrição e criação de sistemas de crédito rotativo e poupança nas comunidades que foram afectadas pelo ciclone IDAI.
Igualmente, com recurso a energias renováveis, a FDC, em colaboração com a GIZ, não só garantiu a electrificação de mais de 42 centros de saúde em Gaza, Inhambane, Manica e Zambézia, mas também engajou empresas a fornecerem energias alternativas para uso produtivo das famílias rurais, incluindo o fornecimento de máquinas de costura solares para a produção de máscaras a nível local, no contexto de prevenção da COVID-19, diversificando e gerando rendimentos para as mulheres e suas famílias.
Reforçamos nossa advocacia para mitigação dos efeitos da COVID-19 defendendo um maior acesso às vacinas pelos países em desenvolvimento, maior alocação orçamental para proteção social as famílias mais carenciadas e maior transparência no uso dos recursos doados ao País através do Fórum de Monitoria e Orçamento no âmbito do projecto “Contas Certas”.
A Fundação influenciou e advogou junto de organismos e entidades nacionais, regionais e internacionais com impacto no processo de desenvolvimento das comunidades moçambicanas, impulsionando mecanismos de monitoria a nível local e nacional de cumprimento dos programas para o desenvolvimento das comunidades. Promoveu a implementação de programas para o acesso aos serviços sociais básicos, acesso ao emprego e trabalho, melhoria da economia familiar e comunitária e uso racional de recursos comunitários.
Como fica evidente ao longo deste relatório anual, a nossa abordagem ao empoderamento das raparigas e mulheres é estabelecer e fortalecer redes locais, provinciais e nacionais que impulsionem o avanço econômico das mulheres e aumentem a participação e a visibilidade das mulheres na sociedade. Construímos um movimento que começa no nível comunitário e em cascata para o nível dos povoados, localidades, distrito, provinciais e nacional. Operando nesses espaços distintos e complementares, 2021 foi o ano onde se deu passos concretos na construção de um movimento para implementação da Lei de Uniões Prematuras e de emancipação das mulheres como agentes de mudança e empoderadas que irão impulsionar a transformação social e económica de Moçambique.